sexta-feira, 5 de julho de 2013

Novas sociabilidades em tempos de internet



Como a amizade era vivenciada há uma década? Para responder a esta pergunta, os que hoje possuem por volta de trinta anos, vão se lembrar muito bem que os recursos mais utilizados para manter uma amizade eram um simples telefonema, uma carta, uma visita, um passeio e muitos outros gestos que simbolizavam afeto, cumplicidade e carinho para com a outra pessoa.
No livro O Pequeno Príncipe, escrito em 1944 por Antoine de Saint-Exupéry, vislumbramos um prenúncio dos tempos modernos quando a raposa suplica ao príncipe que a cative. Ele, no entanto, responde que não tem tempo, pois tinha amigos e mundos a conhecer. Ao que ela, sabiamente retruca: “- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!”
Diferentemente da geração passada os jovens de hoje, conhecidos como a geração Y, são nativos digitais e já nasceram em um mundo povoado pela tecnologia e pela internet. Mais recente ainda, a emergência das mídias sociais (Twitter, Facebook, chats, fóruns e blogs) dão não só aos jovens, mas a todos nós, a possibilidade de utilizá-las para diversos fins, inclusive para fazer e manter amigos. Mas, será que, assim como a raposa alertou ao princepezinho, quantos de nossos fãs, seguidores ou curtidores podem ser efetivamente chamados de amigos, no sentido estrito da palavra? Quantos daqueles eu cativei ou quantos sequer nem conheço? Sei o nome, conheço de vista, sei onde trabalha ou quem namora, mas não conheço a fundo seu íntimo, não sei das suas particularidades, não sei o que o faz rir ou chorar, o que o move na vida ou quais são seus sonhos. Quantos, dos 308 amigos que tenho na minha página do Facebook, posso considerar realmente pessoas do meu círculo íntimo de convivência? Em uma resposta honesta, posso dizer que realmente umas 15 pessoas dessa lista poderiam receber o título de “amigo”.
Na atualidade vivemos, como coloca a filósofa americana Shannon Vallor, o “fast food da amizade”, com a intangibilidade dos relacionamentos virtuais mediados por computador, em que esses relacionamentos são fluidos, impalpáveis, na medida que meus amigos virtuais enchem meu feed de notícias de informações que dizem muito pouco do que realmente são, o que dificulta uma aproximação verdadeira. Outros pensadores defendem que os usuários das redes sociais estariam vivendo uma ilusão de relacionamentos, quando, na verdade, estariam se isolando do “mundo real” e se afastando das “amizades verdadeiras”.
Pensemos também na representação de que cada indivíduo faz de si mesmo nas redes sociais, com apresentação de um “eu-ideal”, que muitas vezes não condiz com a realidade. Será que somos sempre lindos, inteligentes e seguros como nas fotos e mensagens que postamos no Facebook ou no Twitter? Em que medida não estou mostrando uma identidade que é muito mais aquilo que eu gostaria de ser do que eu sou de verdade?
O mais certo, no entanto, é enxergar que é uma tendência sem volta. Como no tempo das cavernas, quando vivíamos em grupo e nossa sobrevivência estava baseada na experiência grupal, hoje com a comunicação mediada por computador o que se percebe é um caminhar para um isolamento, em que cada um rompe as barreiras de tempo e espaço e interage com o amigo do outro lado do mundo sem conhecer e saber o nome do próprio vizinho. Vivemos essa ruptura no conceito de amizade, que significa um relacionamento que envolve conhecimento mútuo, afeição o que se subtende proximidade para o estreitamento dos laços. Mas, não condenemos de antemão as redes sociais, pois as interações e laços que emergem dali também são passíveis de darem bons frutos. O que não é aconselhável é ter somente amigos virtuais e não cultivar a sinceridade dos olhos nos olhos, de uma risada gostosa, de um toque, um abraço, uma conversa. Afinal, o que fica da amizade é o conselho da raposa, que esperta como é, nos deixa para a reflexão a frase “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativa.”

Carolina Lima, Mestranda em Comunicação na UFJF.